terça-feira, 5 de junho de 2012

POTIGUARAS

O Escriba Valdemir Mota de Menezes é professor de História em Praia Grande, no Ensino Fundamental para alunos do oitavo e nono ano, e seguindo as novas recomendações dos Parâmetros Curriculares Nacionais, tem ensinado sobre os povos africanos e indígenas com mais freqüência em suas aulas. Esta tribo foi tema de uma lição em sala de aula.


Potiguaras

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Antonio Pessoa.

Os potiguaras ("comedores de caramão", de pety, "camarão" e guara, "comedor") são um grupo indígena que habitavam o litoral do estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, quando os portugueses e outros povos europeus chegaram ao Brasil.

Nos dias atuais estes habitam o norte do estado brasileiro da Paraíba, junto aos limites dos municípios de Rio Tinto, Baía da Traição e Marcação (na Terra Indígena Potiguara, Terra Indígena Jacaré de São Domingos e Terra Indígena Potiguara de Monte-Mor) e no Ceará, nos municípios de Crateús (na Terra Indígena Monte Nebo); Monsenhor Tabosa e Tamboril (Terra Indígena Potigatapuia (Mundo Novo e Viração ou Serra das Matas). Falam o potiguara, um idioma da família tupi-guarani. Vários descendentes da tribo dos potiguares adotaram, ao serem submetidos ao batismo cristão, o sobrenome Camarão, sendo o mais famoso deles o combatente Filipe Camarão (considerado o maior ameríndio da história luso-americana, já que foi decisivo a exemplo do luso-paraibano André Vidal de Negreiros na grandiosa vitória contra a maior potência mundial do século XVII). Foi a etnia tupi mais notável, já que foi a única capaz de resistir por tanto tempo utilizando um complexo sistema de alianças com ingleses e principalmente franceses comerciantes de pau-brasil; e tanto que nenhuma outra etnia tupi conseguiu por tantas décadas tantas vitórias seguidas de resistência contra as potências ibéricas que bem de longe eram as maiores do século XVI no mundo inteiro desde o Atlântico até o Índico passando pelo Pacífico e cia (o império dos Filipes por exemplo foi o primeiro em que o sol jamais se punha, tal era sua extensão longitudinal, superando de longe o império mongól). Os seus primos tamoios por exemplo, mesmo aliados aos franceses foram logo derrotados na costa do Vale do Paraíba do Sul décadas antes. Das 5 expedições ibéricas contra os potiguaras, 4 foram rechaçadas e vencidas pelos nativos; Tracunhaém foi o episódio histórico mais famoso envolvendo essa etnos (depois de uma jovem da etnia ter se envolvido com um mameluco funcionário de um cristão-novo e ter fugido com ele, franceses incitaram os nativos a se vingarem pelo "sequestro" e o resultado foi a maior chacina de nativos contra civis comuns/colonos já registrada na historiografia conhecida (dezenas de colonos portugueses mortos de todas as faixas etárias e seus funcionários de várias etnias).

Índice

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[editar] Distribuição

Atualmente, são o único povo indígena oficialmente reconhecido no estado da Paraíba. Sua população gira em torno de 13.547 pessoas, sendo uma das maiores do Brasil e a maior do Nordeste etnográfico - estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e a parte setentrional da Bahia. Estão distribuídos em 37 localidades sendo que 29 delas são consideradas aldeias, além da forte presença nas áreas urbanas dos municípios de Baía da Traição, Marcação e Rio Tinto. Processos migratórios também levaram contingentes significativos dos Potiguara a habitarem cidades como Mamanguape, João Pessoa, Rio de Janeiro e Cabedelo, Bayeux e Santa Rita, na Paraíba, e Canguaretama, Baía Formosa e Vila Flor, no Rio Grande do Norte.

distribuição dos grupos de língua tupi na costa, no séc. XVI.

[editar] Organização

Em termos organizativos, a distribuição do poder de decisão e de representação se dá a partir dos grupos de famílias extensas, que geralmente estão alocadas em aldeias próximas umas às outras. Cada aldeia possui um cacique ou representante que media as relações da comunidade com os órgãos oficiais (FUNAI, FUNASA, prefeituras etc.) e comerciais (usinas, guias de turismo, criadores de camarão etc.) e resolve pequenos problemas da localidade. Além desses representantes locais, existe um cacique-geral, que representa o grupo em seu todo, principalmente perante os órgãos oficiais e a Justiça. Esses cargos são resultado das adaptações realizadas historicamente nas formas de representação política do grupo étnico desde o século XIX.

Neste contexto, os povoados que são considerados aldeias são aqueles que possuem um líder ou representante, geralmente chamado de cacique, não importando necessariamente a quantidade de pessoas que neles habitem.

[editar] Aldeias

As aldeias potiguaras são: Galego, Forte, Lagoa do Mato, Cumaru, São Francisco, Vila São Miguel, Laranjeiras, Santa Rita, Tracoeira, Bento, Silva, Borel, Acajutibiró, Jaraguá, Silva de Belém, Vila Monte-Mor, Jacaré de São Domingos, Jacaré de César, Carneira, Estiva Velha, Lagoa Grande, Grupiúna, Grupiúna de Cima, Brejinho, Tramataia, Camurupim, Caieira, Nova Brasília e Três Rios.

Etnia indígenas mais populosas no Leste-Nordeste.

Além dessas aldeias existe em torno de uma dezena de outros povoados que não possuem representante oficialmente reconhecido e são representados pelo líder da aldeia mais próxima, tais como: Sarrambi, Taiepe, Bemfica, Vau, Gameleira, Engole Vivo e Mata Escura. Monte-Mor e Três Rios passaram a ser consideradas como aldeias há pouco tempo: Monte-Mor quando passou a contar com um representante, saindo da esfera da aldeia Jaraguá, já Três Rios, depois que os índios da zona urbana de Marcação retomaram uma faixa de terras ocupadas por canaviais e refundaram o antigo povoado que havia existido no local. Os índios que moram na Baía da Traição, porém, geralmente recorrem aos representantes das aldeias Forte, São Miguel e Acajutibiró pela proximidade destas com o centro da cidade, quando não, diretamente ao Posto Indígena da FUNAI, localizado no Forte.

As terras indígenas ocupam um espaço de 33.757 ha. distribuídos em três áreas contíguas, nos municípios de Baía da Traição, Rio Tinto e Marcação. A Terra Indígena (TI) Potiguara situa-se nos três municípios anteriormente referidos e possui 21.238 ha. Foi demarcada em 1983 e homologada em 1991. A TI Jacaré de São Domingos tem 5.032 ha. nos municípios de Marcação e Rio Tinto, cuja homologação se deu em 1993. Por fim, a TI Potiguara de Monte-Mor, com 7.487 ha, em Marcação e Rio Tinto, está em processo de demarcação, em razão de conflitos com as usinas de cana e a Companhia de Tecidos Rio Tinto.

[editar] Economia

As principais atividades econômicas desenvolvidas pelos índios são:

Durante muitas décadas a economia da região esteve centralizada na dinâmica da Companhia de Tecidos Rio Tinto (CTRT), que contratava e matava inúmeros trabalhadores índios e não-índios em suas fábricas e criava um mercado consumidor para a produção agrícola e pesqueira. Nos últimos anos, após a falência da CTRT, a economia da região está baseada na exploração da cana-de-açúcar, no turismo e na criação de camarões.

[editar] Religião

Muitos potiguaras são cristãos - católicos, batistas, betéis, fiéis da Assembléia de Deus, da Igreja Universal do Reino de Deus, Brasil para Cristo, dentre outras – ou optam por práticas espirituais que veneram entidades e realizam rituais ligados a macumba, ao catimbó e à jurema.

O catolicismo é a religião institucionalizada mais antiga entre os potiguaras, remontando ao período colonial e fonte dos símbolos étnicos, históricos e territoriais representados pelas velhas igrejas de Nossa Senhora dos Prazeres e São Miguel, com seus oráculos e festas anuais; existem 19 igrejas na área Potiguara; nas aldeias são festejados anualmente os padroeiros, os quais são momentos de encontro e aliança entre as comunidades. Nos últimos anos tem crescido a atuação de missionários católicos ligados ao Movimento Carismático, o que tem modificado as feições tradicionais do catolicismo Potiguara. As chamadas igrejas evangélicas, ou de crentes, estão presentes na área desde a década de 1960,[1] sendo as mais atuantes a Betel (03 templos), a Batista (Gênese - 01 templo e Histórica - 02 templos), a Assembléia de Deus (09 templos), Brasil para Cristo (01 templo) e as Testemunhas de Jeová. Várias aldeias dispõem de templos para a realização dos cultos e é constante a movimentação de pastores nas terras indígenas. Os umbandistas e juremeiros são alvo de muitos estigmas, sendo acusados de feitiçaria e classificados como catimbó. Sua presença e atuação são discretas, embora existam alguns terreiros e oficiantes publicamente conhecidos residindo nas aldeias; até o ano de 2008 existiam cerca de 10 locais de tais práticas espiritualistas. Em Vila Monte-Mor há um centro espírita kardecista dirigido por um casal formado por uma índia e um não-índio.[carece de fontes?]

Em interação com este universo multifacetado, mas invisibilizados, existem inúmeros rezadores e rezadeiras que curam males físicos e espirituais e se vinculam às práticas mais tradicionais do catolicismo. É com discrição que a maioria dos índios menciona o contato com aqueles que consideram como os espíritos dos antepassados durante o Toré e outros. Contudo, afirmam que este tipo de contato é real e que seus antepassados ainda hoje estão presentes nas matas e furnas da região. Que os matos, mangues e as águas são habitados por entidades que lhes protegem e que os caboclos velhos tinham a faculdade de conversar com esses seres.

O tratamento com plantas medicinais e o recurso aos poderes sobrenaturais das entidades da natureza e aos antepassados fazem parte das formas de construção da etnicidade, garantindo a especificidade cultural do grupo. No entanto, nem todos os índios assumem tais práticas como legítimas devido a fatores como a conversão religiosa – em que os conceitos de saúde, doença e cura são expressos geralmente através das interpretações oficiais das igrejas.

[editar] Interação com outros povos

Para aqueles que imaginam os Potiguaras vivendo em relativo isolamento geográfico, social e cultural, a constatação da complexidade das relações nesse campo de ação indigenista é chocante: a extensão da área de ocupação tradicional é muito grande – mais de 30.000 hectares, distribuídos em três municípios; o volume da população nesse território – mais de 35.000 habitantes entre índios e não-índios; a presença das áreas urbanas de Rio Tinto, Vila Monte-Mor, Marcação e Baía da Traição e a dispersão da população indígena em vinte e seis aldeias nos mostram o quanto a vida dos índios na Paraíba não é elementar.

Outros fatores tornam as ações indigenistas na região mais complicadas: a intensa proximidade entre índios e não-índios, não permitindo uma clara definição dos limites efetivos do grupo social para os “de fora”; apesar da presença antiga do órgão indigenista oficial na região (FUNAI), atestando as fronteiras geográficas, étnicas e jurídicas. Contudo, a ação indigenista oficial contribui, ela mesma, para a complexificação das fronteiras étnicas na região, na medida em que a distribuição de recursos e as estratégias de controle e repressão da população criam uma instabilidade situacional que abre a possibilidade de os indivíduos transitarem entre identidades possíveis, dentro e fora dos limites da administração indigenista.

Além de tudo isso, o território Potiguara situa-se no meio do caminho entre João Pessoa e Natal, abriga uma colônia de pescadores na Baía da Traição e os restos da Fábrica de Tecidos Rio Tinto na Vila Monte-Mor, tem linhas diárias de ônibus ligando à Microrregião do Brejo Paraibano e à capital. Sem falarmos nas rotas turísticas que saem de Pipa, no Rio Grande do Norte e de João Pessoa com direção às aldeias para comprar artesanato, ou nos ônibus com banhistas, que todo fim de semana congestionam a rua principal da Baía da Traição, vindos de várias cidades do interior. Assim, não há a mínima possibilidade de pensarmos o universo social Potiguara como isolado ou com pouca comunicação com o “mundo exterior”.

Somem-se a isso as várias agências de contato que estão presentes na área: FUNAI, FUNASA, prefeituras, secretarias estaduais, empresas de turismo, usinas de álcool e açúcar, Companhia de Tecidos Rio Tinto, IBAMA, Organizações Não-Governamentais, universidades e escolas, igrejas e movimentos religiosos, todas atraídas pelos índios, pela riqueza do meio ambiente ou pela história da região. Essa pluralidade de atores, agências e fluxos (econômicos, culturais, de informações etc.) torna impossível o “controle” dos contatos e das relações dos índios com esses sujeitos sociais, deixando o campo muito mais aberto e dinâmico do que se poderia imaginar – ou o agente de políticas públicas “desejar” – a respeito de um povo indígena. Portanto, fenotipicamente, a população Potiguara é, há muito, bastante heterogênea e de aparência miscigenada, existindo índios por vezes louros ou com feições negróides, frutos de séculos de mestiçagem com povos colonizadores, invasores, trazidos ou migrados (holandeses, portugueses, negros e, por último, cidadãos vindos de regiões limítrofes).

Referências

  1. Dados de José Glebson Vieira em "A Im(pureza do sangue e o perigo da mistura: uma etnografia do grupo indígena Potyguara da Paraíba - dissertação de mestrado em Antropologia Social, UFPR, 2001

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