quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

CARTA DE PIERRE VICTOR RENAULT

CARTA DE VICTOR RENAULT



Barbacena, 17 de outubro de 1877.

Meu bom irmão Léon.

No dia 6 do corrente mês, eu te escrevi uma longa carta em reposta à tua
carta do dia 1º de setembro e eu inclui um retrato meu tirado em agosto de
1876 lamentando muito não ter podido te enviar ainda os retratos da minha
família, por falta de um fotógrafo que passe por aqui.(...). Chegado ao
Rio, sem nenhum recurso, foi-me necessário encontrar os meios de poder
me transportar para o interior da província de Minas, à procura de um emprego
como engenheiro numa mina de ouro, e da qual me haviam falado
em Paris, na embaixada do Brasil.(...). Enfim após ter perambulado durante
2 anos, e vendido pouco a pouco a roupa que eu havia trazido da França,
encontrei-me no fim dos meus recursos, e cada vez mais com uma forte
inflamação no fígado. Eu achei uma casa caridosa que me tratou, e em
troca, durante meu tratamento, eu ensinava a ler e a escrever, à criança
da casa, o que me valeu um transporte gratuito até Sabará, com algumas
camisas que me havia dado, a dona da casa. Enfim chegado a Sabará,
cidade bastante importante, eu comecei a dar aulas de francês, inglês,
química, física, matemática e alemão(...),Propuseram-me atravessar um
terreno frequentado por selvagens antropófagos que diziam negros, e que
tinham recusado com raiva todas as tentativas feitas para penetrar nas
suas florestas.(...). Logo sou assaltado pelos Nak-Nanukes ( habitantes
das montanhas ) e pertencentes a grande família dos Botocudos, selvagens
nômades, antropófagos e muito ferozes. Eu tinha um intérprete que
lhes faz compreender que não lhes quero nenhum mal, e que eu lhes trazia
presentes(...). Eles são negros, é verdade, quando eles estão em guerra ou
na caça, porque eles se pintam o corpo com a fruta do Jenipapo ( Genipa
Brasiliensis ), uma rubiácea, o que lhes impede de ficar muito a vista no
meio dos tufos de árvore.









Eles estão inteiramente nus, homens e mulheres, e não se dignavam mesmo
a esconder a nudez com fizeram Adão e Eva. Eu era o primeiro homem
que eles viam, por isso quantas exclamações vendo nossas vestimentas,
nossas armas, nossos víveres, que eles não conheciam, e sobretudo o sal
que os obrigava a raspar a língua, e a gritar ( muguang - Krok ) água de
fogo. Apesar de que estas damas estejam inteiramente nuas, elas acharam
apesar disso um meio de dar curso à sua vaidade, que ao que parece,
é inerente a humanidade. (...) Quando nos salões dourados, eu vejo nobres
damas, e belos senhores, se entregarem ao prazer de um galope, eu imagino
a dança dos selvagens, e sua cadência, e eu tenho vontade de rir.
Mas é preciso partir e eu estou apenas no começo da minha viagem. Mas,
por qual lado tomar? (...)Eu subo o Jequitinhonha ( ? ) costeando um caminho
aberto pelos Botocudos Krekmas, e no final de 18 meses de uma
viagem cheia de perigos, de privações de todos os gêneros, eu chequei a
Ouro Preto ( ? ) capital da província, onde o presidente ficou muito contente
com o meu trabalho, e me fez elogios oficiais que conservo para meus
filhos..(...)


Tu me fizeste tremer na sua boa carta quando tu me dizias que tu tinhas
vontade de partir comigo! Deus preserve meu maior inimigo de sair de
seu pais, de perder de vista seu campanário, pois não é somente a terrível
nostalgia que nos apunhala, é a comparação que vos torna infeliz, e se tem
a ocasião de faze-la diariamente. Infeliz fora de seu pais, o seria na nossa
pátria, e não poderia mais nada em lugar nenhum, e é isso que me acontece.
É preciso entretanto que eu termine esta carta já longa e que me deu
muita dor por causa da dificuldade que eu tenho de escrever. (...)Eu teria
querido publicar todas as minhas viagens e as descobertas que eu fiz, mas
eu não tenho mais energia e esta carta já me cansou muito. Talvez meus
filhos acharão algumas notas minhas, das quais eles poderão aproveitar.
Eu vivo então mais ou menos o dia a dia, mas eu vivo e eu tentarei a cura
de um outro louco quando eu tiver curado aquele que eu tenho atualmente
em casa.
Ainda uma vez, eu abraço minhas irmãs e minhas cunhadas, e sou teu
irmão que te ama.
Victor Renault

Um comentário:

  1. Nós da Família Renault no Brasil ficamos honrados com a divulgação de nossa história. Sou neta de Luís Renault Apocalypse e moro em Ouro Fino - Minas Gerais.
    Atenciosamente,
    Maria Consuelo Apocalypse Jóia Paulini
    Leia em nosso blog: "V" de Veridiana e Verônica www.yesminas.blogspot.com

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